
China e UE respondem às tarifas dos EUA e intensificam guerra comercial

A guerra comercial lançada pelo presidente americano, Donald Trump, se intensificou nesta quarta-feira (9) depois que a China anunciou tarifas adicionais sobre produtos dos Estados Unidos e os países da UE concordaram com medidas retaliatórias, alimentando a instabilidade nos mercados financeiros.
A nova rodada de tarifas dos Estados Unidos contra quase 60 países, incluindo uma taxa acumulada de 104% aos produtos da China, entraram em vigor nesta quarta-feira.
Poucas horas depois, a China respondeu com o aumento nas tarifas sobre produtos americanos de 34% para 84% a partir de quinta-feira às 12h01 (1h01 de Brasília).
"A escalada tarifária dos Estados Unidos contra a China acumula erros sobre erros e infringe seriamente os direitos e interesses legítimos da China", afirmou o Ministério do Comércio chinês em um comunicado.
Pequim não descarta uma possível negociação com os Estados Unidos "por meio do diálogo em pé de igualdade e com uma cooperação mutuamente benéfica", segundo um documento oficial publicado pela imprensa chinesa.
Os países da UE também decidiram responder às tarifas e concordaram, nesta quarta-feira, com um primeiro pacote de respostas que afeta bens como soja, motocicletas e produtos de beleza, com um valor estimado de 20 bilhões de euros (130 bilhões de reais).
No entanto, a Comissão Europeia destacou que as medidas "podem ser suspensas a qualquer momento" se os Estados Unidos concordarem com um acordo "justo e equilibrado".
Após uma leve recuperação na terça-feira, as Bolsas voltaram a despencar nesta quarta diante do temor das consequências da guerra comercial para o consumo e o crescimento econômico.
Na Europa, os principais índices de Paris, Frankfurt, Londres e Madri caíram quase 4% no início da tarde.
No Japão, o índice Nikkei encerrou o dia em queda de 3,93%. Outros mercados da Ásia também fecharam em queda livre, como Taipé (-5,8%) e Seul (-1,73%).
Contra todos os prognósticos, Wall Street estava no positivo logo após a abertura. No entanto, os investidores estão abandonando a dívida pública e o dólar.
Em uma demonstração do pânico nos mercados internacionais, o petróleo registra as menores cotações em quatro anos, cerca de 60 dólares o barril.
A Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que tem 10 membros, incluindo o Vietnã, afetado por uma tarifa de 46%, pediu nesta quarta-feira que os países "atuem com coragem" para responder ao risco de uma guerra comercial.
- "Acordos sob medida" -
Diante do pânico, Washington afirma estar aberto a negociações e Trump declarou que está disposto a alcançar acordos "sob medida" com os países afetados pelas tarifas.
Durante um jantar com representantes do Partido Republicano, o presidente celebrou que dezenas de países - incluindo a China, segundo ele - "estejam fazendo todo o possível" para buscar um acordo.
Na Europa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu ações para "evitar uma escalada" durante uma conversa telefônica com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.
Segundo um porta-voz europeu, o bloco poderia apresentar sua resposta "no início da próxima semana".
A UE estuda aplicar tarifas de 25% a uma série de produtos americanos. O bloco decidiu, no entanto, excluir o bourbon para evitar represálias contra os vinhos e licores europeus, segundo uma lista à qual a AFP teve acesso.
Autoridades americanas alertaram contra possíveis retaliações. "Acho que muitas pessoas não estão entendendo que os níveis definidos na quarta-feira passada são um teto, a menos que haja retaliação", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
Bessent alertou os países europeus que se alinhar à China "seria como cavar a própria cova" devido ao "dumping" do gigante asiático — a prática comercial de vender abaixo do custo.
Analistas e economistas temem que a guerra comercial iniciada por Trump prejudique a economia mundial, com riscos de inflação, desemprego e queda no crescimento.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "particularmente preocupado com os países em desenvolvimento mais vulneráveis", onde os impactos serão "mais devastadores".
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F.Colin--PS