
Guerra comercial mundial entra em uma espiral

"Fiquem tranquilos! Tudo vai dar certo", prometeu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, depois que a guerra comercial que ele desencadeou entrou nesta quarta-feira (9) em uma espiral, com represálias da China e da Europa.
Alguns economistas estimam que os Estados Unidos se tornaram, da noite para o dia, o país com as maiores tarifas do mundo.
Os mercados europeus fecharam com forte queda, os preços do petróleo despencaram — como costuma acontecer sempre que a atividade mundial é ameaçada por uma desaceleração — e Wall Street opera de forma instável desde a abertura. Os investidores aceleram a venda de títulos do Tesouro americano.
Mas o presidente Trump aconselha aproveitar a queda das bolsas para "comprar" ações.
Às 04h00 GMT (01h00 de Brasília), os Estados Unidos começaram a aplicar tarifas adicionais sobre produtos de 60 parceiros comerciais. O mais afetado é a China, com tarifas acumuladas de 104%.
Para dar uma ideia da ofensiva tarifária, a UBS Investment Research publicou uma análise segundo a qual o preço de um iPhone 16 Pro Max de 256 GB, montado na China, poderia subir de US$ 1.199 para US$ 1.549. Um aumento de 29%.
Apesar das críticas, inclusive de aliados como Elon Musk, o presidente republicano afirma ter encontrado a receita para reduzir o déficit comercial, sanear as finanças públicas e relocalizar muitas atividades industriais.
A China respondeu de imediato. Anunciou que aumentará suas tarifas alfandegárias sobre produtos americanos para 84%, em vez dos 34% inicialmente previstos, a partir de quinta-feira às 04h01 GMT (01h01 de Brasília).
"Continuaremos tomando medidas firmes e enérgicas para proteger nossos direitos e interesses legítimos", advertiu um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, advertiu outros parceiros comerciais de que seguir o caminho da China seria como "cavar sua própria cova".
Em tom vulgar, o presidente Trump zombou dos países que, segundo ele, estão "beijando sua bunda" para negociar acordos comerciais "sob medida".
- Europa responde -
A União Europeia, sujeita desde meados de março a tarifas americanas de 25% sobre o aço e o alumínio e, desde quarta-feira, a um imposto de 20% sobre todos os seus produtos, adotou nesta quarta-feira suas primeiras contramedidas contra mais de 20 bilhões de euros (R$ 133,7 bilhões) em bens "fabricados nos Estados Unidos".
A lista inclui produtos agrícolas como soja, aves e arroz.
Também prevê sobretaxas de até 25% sobre madeira, motocicletas, produtos plásticos e equipamentos elétricos.
Na próxima semana, mais medidas podem ser anunciadas.
Bruxelas afirma estar disposta a suspendê-las "a qualquer momento" se alcançar um acordo "justo e equilibrado" com Washington.
O futuro chanceler alemão, Friedrich Merz, defendeu "uma resposta europeia comum".
A guerra comercial global gera temores de aumento da inflação e queda no consumo e no crescimento econômico.
Se continuar, poderá alterar a globalização como a conhecemos, com suas cadeias de produção espalhadas por diversos países e seus gigantescos navios porta-contêineres carregados de camisetas baratas ou sofisticados componentes eletrônicos.
E não se descarta uma escalada diplomática entre China e Estados Unidos, cuja relação já é tensa.
Pequim instou nesta quarta-feira seus cidadãos a redobrarem a cautela ao viajarem para os Estados Unidos.
O medo de um ciclo interminável de represálias leva alguns bancos centrais a intervir. A Nova Zelândia e a Índia, por exemplo, já reduziram suas taxas de juros.
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D.Gautier--PS