
O mundo de luto pela morte do papa Francisco

Francisco, o primeiro papa latino-americano, morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, após mais de uma década de um pontificado muito popular entre os fiéis, embora tenha enfrentado uma oposição ferrenha dentro da própria Igreja Católica.
A saúde do jesuíta argentino, líder da Igreja Católica desde 2013, estava por um fio havia vários meses. Ele ficou internado por 38 dias devido a uma grave pneumonia, até 23 de março. Debilitado, participou no domingo da celebração de Páscoa no Vaticano.
Segundo a certidão de óbito publicada pela Santa Sé, Francisco morreu vítima de um derrame cerebral, que provocou um coma e insuficiência cardíaca irreversível. Sua morte ocorreu às 07h35 (02h35 de Brasília) na residência de Santa Marta, onde vivia.
Das Filipinas aos Estados Unidos, da Alemanha à África do Sul, passando por Brasil, Irã, Rússia, Líbano, Israel e a Autoridade Palestina, líderes de todo o mundo prestaram homenagem a Francisco.
Ao anoitecer, milhares de fiéis, alguns com flores e velas, se reuniram em oração na Praça São Pedro, no Vaticano.
"Perdemos nosso pai espiritual", lamentou Riccardo Vielma, um venezuelano de 31 anos que se prepara para ser sacerdote.
Em Buenos Aires, sua cidade natal, Juan José Roy chorava. "É muito forte porque foi embora uma pessoa que cuidava dos pobres e nos deixou sós. Ele sempre vai estar conosco", disse à AFP este homem de 66 anos.
O caixão com o corpo do papa será exposto a partir de quarta-feira na Basílica de São Pedro para que os fiéis possam se despedir dele. A data do funeral será decidida na terça-feira pelos cardeais, a princípio entre o quarto e o sexto dia após sua morte.
Segundo o testamento do papa Francisco, publicado na noite de segunda-feira, ele pediu uma sepultura "simples", "sem decorações", na qual haverá apenas uma inscrição: Franciscus, seu nome em latim.
Líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos do mundo, Francisco afirmou, no final de 2023, que queria simplificar os funerais papais e anunciou o desejo de ser enterrado na basílica de Santa Maria Maggiore de Roma, e não na de São Pedro.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que comparecerá ao funeral do pontífice em Roma, acompanhado da primeira-dama Melania Trump.
"Melania e eu iremos ao funeral do papa Francisco, em Roma. Estamos ansiosos para estar lá!", escreveu o presidente americano em sua rede, Truth Social.
- 'Feliz Páscoa' -
Francisco foi internado em 14 de fevereiro no Hospital Gemelli de Roma, com uma bronquite que provocava dificuldades respiratórias. Ele foi diagnosticado com pneumonia bilateral, o que exigiu um tratamento médico intensivo e pôs sua vida em perigo. Ele teve alta em 23 de março.
No domingo (20), ainda em convalescença, apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e, com a voz fraca, desejou "Feliz Páscoa" a milhares de fiéis. Um pouco antes, recebeu o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, em uma audiência privada.
O protocolo prevê nove dias de serviços funerários e um período de 15 a 20 dias para organizar um conclave com 135 cardeais eleitores para escolher o sucessor. Mais de dois terços deles foram nomeados por Francisco.
Enquanto isso, o cardeal camerlengo, o irlandês Kevin Farrell, ocupará o cargo interinamente.
- 'Um grande legado' -
Ex-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro pontífice a escolher o nome de Francisco, o santo dos pobres, cujos ensinamentos inspiraram seu pontificado, iniciado em 13 de março de 2013.
O primeiro papa jesuíta da história se envolveu incansavelmente na defesa dos migrantes, do meio ambiente e da justiça social, sem questionar as posições conservadoras da Igreja em questões como o aborto ou o celibato sacerdotal.
Uma enxurrada de reações se seguiu à notícia de sua morte.
"Descanse em paz, papa Francisco! Que Deus o abençoe e a todos que o amavam!", postou Donald Trump na rede Truth Social.
O presidente argentino, Javier Milei, exaltou a "bondade e sabedoria" do papa, apesar das "diferenças" entre eles.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a "coragem e empatia" com que o papa impulsionou a discussão sobre as mudanças climáticas.
O primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, destacou "seu compromisso com a paz, a justiça social e os mais vulneráveis".
- Reformas -
Bergoglio, que aos 21 anos sofreu de pleurisia aguda que exigiu a remoção parcial do pulmão direito e era conhecido por sofrer de uma dor ciática crônica que o fazia mancar visivelmente, ainda assim desfrutou de uma saúde relativamente boa até 2023.
Naquele ano, ele foi hospitalizado duas vezes. Seu estado de saúde piorou significativamente, o que o obrigou a usar uma cadeira de rodas. O papa foi alvo de rumores sobre uma possível renúncia, seguindo o exemplo de seu antecessor, Bento XVI.
O "papa do fim do mundo", que liderou os jesuítas durante a ditadura argentina na década de 1970, denunciou a violência, os conflitos, o tráfico de pessoas e a exploração econômica. Contudo, assistiu impotente às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.
Para lutar contra os abusos sexuais de menores na Igreja, obrigou religiosos e laicos a denunciar os casos à hierarquia. Mas não convenceu as associações de vítimas, que o criticaram por não ter feito o suficiente.
Francisco, um político astuto conhecido por sua franqueza, também trabalhou para reformar a Cúria, o governo da Santa Sé, desenvolver o papel das mulheres e dos laicos na Igreja e sanear as finanças do Vaticano. E trabalhou a favor do diálogo interreligioso.
- Caloroso -
O estilo caloroso deste papa reformista, que desejava "bom apetite" aos fiéis todos os domingos na Praça de São Pedro, despertou grande fervor popular.
Também apresentou um estilo austero e humilde, que o levou a escolher um apartamento sóbrio, e não o luxuoso palácio apostólico, e a convidar para sua mesa pessoas em situação de rua e detentos.
Isso, no entanto, irritou a oposição conservadora por sua suposta falta de ortodoxia e dessacralização excessiva de seu papel.
F.Colin--PS