
O que houve com as penitenciárias ao estilo Bukele do presidente Noboa no Equador?

Navios-prisão e imensas penitenciárias semelhantes às do presidente Nayib Bukele em El Salvador. As propostas para fortalecer o sistema prisional do Equador deram notoriedade ao presidente Daniel Noboa, mas a poucos dias do fim de seu mandato, só há atrasos e silêncio.
Cansados da violência do narcotráfico, os equatorianos irão às urnas no domingo para escolher um presidente em um segundo turno acirrado entre Noboa e sua rival de esquerda Luisa González.
O presidente concentrou sua campanha na continuidade à sua política de combate ao crime, mas apenas uma das duas prisões que mandou construir em 2024 está avançando, em ritmo lento.
As bases do "Cárcel del Encuentro" ficam na cidade pobre de Juntas del Pacífico, na província costeira de Santa Elena (sudoeste). Seus habitantes vivem sem água potável, acesso à internet ou um centro de saúde, constatou a AFP.
- Tempo "recorde" -
Em outubro, autoridades informaram um avanço de 30% da obra. O então diretor do órgão de administração penitenciária (SNAI), Luis Zaldumbide, fez uma promessa: a prisão para 800 pessoas seria concluída em um tempo recorde de 300 dias. O prazo vence em maio.
Cerca de trinta homens encapuzados atacaram o canteiro de obras com explosivos e mataram um trabalhador em dezembro.
"Depois da explosão, tudo parou, mas desde fevereiro, vemos quatro ou cinco caminhões indo e vindo com suprimentos e soldados todos os dias", diz Bienvenido Salinas, um fazendeiro local.
Um dia antes das autoridades lançarem a pedra fundamental simbólica, autoridades do governo reuniram os moradores. "Eles nos informaram sobre a prisão. Já haviam tomado a decisão sem nós", diz Omar Laines, líder comunitário da cidade de 4.000 habitantes.
As terras "são nossas por direito ancestral, e temos título de propriedade sobre elas" como descendentes de um povo pré-colombiano, acrescenta.
- Estilo Bukele -
Contatada pela AFP, a autoridade penitenciária alegou motivos de "segurança" para não fornecer informações sobre a obra.
A prisão está planejada para ocupar 16,2 hectares. Os projetos incluem seis torres de vigilância de 9,5 metros de altura e um muro de nove metros. Além disso, prevê bloqueadores de sinal de telefone e internet e circuito fechado de televisão.
O projeto da prisão foi inspirado na imensa penitenciária construída por Bukele, com capacidade para 40.000 pessoas e criticada por abusos de direitos humanos.
Inicialmente, Noboa disse que a empresa que construiu o complexo em El Salvador seria responsável pelo empreendimento no Equador.
No entanto, o contrato de 52 milhões de dólares (307 milhões de reais) foi concedido à espanhola Puentes y Calzadas Infraestructura, subsidiária de uma empresa chinesa sem relação com a salvadorenha.
"O país não está no momento para construir prisões. Poderíamos evitar essa despesa e fortalecer o sistema prisional atual", diz Mario Pazmiño, especialista em segurança e ex-chefe de inteligência do Exército equatoriano.
- Matagal -
O maior complexo prisional do Equador fica no porto de Guayaquil, no sudoeste, e tem sido palco de massacres entre detentos que deixaram quase 500 mortos desde 2021.
"O Equador sempre se espelha em El Salvador, mas tudo faz parte de um discurso político, não de reabilitação prisional", acrescenta Pazmiño.
Noboa ofereceu uma segunda prisão de segurança máxima para isolar os líderes da máfia. Inicialmente, seria localizada na amazônia Arquidona, mas protestos de grupos indígenas e locais forçaram sua realocação.
O plano "está em pausa por causa das eleições, mas é melhor porque não a queremos", diz Priscila Del Pezo, vereadora da região costeira de Salinas.
Pouco se vê da primeira prisão, nada se vê da segunda. O terreno destinado está tomado por um matagal, verificou a AFP.
X.Francois--PS